segunda-feira, 10 de maio de 2010

JERONIMO SAVONAROLA



II. Infância e Formação
Jerônimo Savonarola nasceu em 21 de setembrode 1452 em uma das mais importantes cidades da Itália—Ferrara, na época uma das cortes mais importantes do país, com cerca de 100.000 habitantes. Filho de Nicole e de Elena Savonarola, Jerônimo foi o terceiro dos sete filhos do casal. Alguns biógrafos o apresentam como uma criança precoce, possuída por uma inteligência superior, mas os trabalhos mais sérios contestam esta visão. "A única marca característica de sua juventude era a sua seriedade", diz Crawford.14 Aparentemente ele não era uma criança atraente, "… pois não era nem bonito nem brincalhão, mas sempre sisudo e controlado".15
Os Savonarolas possuíam profundas raízes na história italiana. Alguns dos ancestrais de Jerônimo estavam registrados nas crônicas, como personagens importantes da história local. O mais importante Savonarola, além de Jerônimo, foi seu avô Michele, conhecido por seu trabalho médico e pelo amor devotado ao neto que se tornaria famoso. A reputação médica de Michele Savonarola levou-o a uma "… cadeira na Universidade de Ferrara e à sua indicação como médico particular de Niccolo d’Este".16 Por influência de seu avô, Jerônimo foi levado à sua casa e ali estudou medicina até os dezesseis anos. Aplicando-se aos estudos, desenvolveu, em paralelo, um forte senso de devoção que o levaria, no cômputo final, à vida monástica. Roeder assim descreve esta situação:
… seu avô estava gratificado; ele previu o desenvolvimento de um médico metafísico que excederia a sua própria pessoa, mas ainda não estava satisfeito. Encorajado pelo seu sucesso, e sendo ele próprio uma pessoa de intensa devoção, procurou melhorá-lo derramando toda a sua piedade naquela jovem mente. Ali ele encontrou uma resposta ainda mais profunda.17
Após a morte de seu avô, Jerônimo foi educado por seu pai por dois anos adicionais antes de ser enviado à universidade, onde estudou cinco anos. A vida na universidade foi o seu primeiro contato com o mundo e ali ele se conscientizou dos grandes males da sociedade ao seu redor. A iniqüidade do homem, a corrução da sociedade, a grande miséria do mundo, eram todas coisas completamente adversas à sua formação. Ele deixou de ver necessidade ou de ter o desejo de dar continuidade aos estudos médicos, mas começou a ansiar por uma dedicação de sua pessoa às coisas de Deus e ao lado espiritual de sua vida. "Desgostoso com o mundo, decepcionado em suas esperanças pessoais, cansado dos constantes erros que observava e para os quais não possuía as soluções, ele decidiu temporariamente dedicar-se à vida no mosteiro…"18
Jerônimo, como médico, era a esperança do seu avô e dos seus pais. Estes não admitiam que nada viesse a desviar o jovem da brilhante carreira à frente e se decepcionaram com a decisão tomada. Esta decepção e amargura está refletida no conteúdo das cartas trocadas entre Savonarola e seu pai logo após a sua entrada na vida monástica. Isso ocorreu no festival de S. Jorge. Os seus pais estavam, com o restante da cidade de Ferrara, participando das festividades, quando Savonarola fugiu de casa indo para Bolonha.19 O seu pai escreveu depois, em profunda tristeza:
Lembro-me como no dia 24 de abril, dia de S. Jorge, em 1475, Jerônimo, meu filho, estudante das artes, saiu de seu lar dirigindo-se a Bolonha, juntando-se aos irmãos de São Dominic, com o intuito de tornar-se também um irmão. Ele deixou-me, Niccolo delle Savonarola, seu pai, palavras de consolo e exortação, para minha satisfação.20
Savonarola passou sete anos no mosteiro dominicano de Bolonha. Começou a estudar intensamente a Bíblia e as doutrinas da Igreja. Durante a sua vida no mosteiro, encontrava conforto na oração e no jejum. Logo foi comissionado a instruir os noviços.
Enquanto estudava a Bíblia, Savonarola começou a verificar, em paralelo, os males e a corrução reinantes na Igreja. Descobrindo a verdade sobre o que ocorria por trás das paredes do mosteiro, Savonarola teve o seu coração
…tomado por intenso pesar e movido por uma indignação irreprimível, ao verificar a deterioração e corrução da igreja cristã… O estado do mundo e da Igreja o preencheram com um pesar cheio de horror que só era aliviado através do estudo e da oração.21
Savonarola foi se achegando mais e mais à Bíblia ao ponto em que ela se tornou o seu guia inseparável.
Em 1481 foi enviado a Ferrara, para pregar. Ali o ditado citado por Jesus de Nazaré (Lc 4.24) foi ratificado e ".. ele parece que causou pouca impressão em sua cidade natal".22 O seu ministério em Ferrara foi interrompido por uma guerra civil. Isso fez com que se deslocasse até Florença alojando-se no mosteiro de S. Marcos. Durante os próximos anos permaneceria em Florença sem despertar atenção maior. Em 1482 ele foi o orador de uma reunião de Dominicanos. Entre os seus ouvintes estava um leigo ilustre: Giovanni Pico, conde de Mirandola (Pico della Mirandola).
O assombroso conhecimento que fez de Pico a maravilha de sua geração e uma autoridade, mesmo em sua adolescência, em praticamente qualquer assunto que viesse a tratar, deu um peso todo especial aos seus elogios. Naquela augusta assembléia, estes elogios foram derramados sobre um de seus membros mais obscuros. Naquele delegado de S. Marcos ele reconheceu aquela qualidade que lhe faltava, e aquela que ele mais invejava—convicção.23
Este foi o momento em que a carreira de Jerônimo Savonarola começou a trilhar o caminho ascendente que o colocaria em destaque junto às outras figuras

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